Aula 6
ARTE E TÉCNICA
Arte - do latim ars;
corresponde ao termo grego techne (técnica); significa: o que é
ordenado ou toda espécie de atividade humana submetida a regras. Seu campo
semântico se define em oposição ao acaso, ao espontâneo e ao natural. Arte é um conjunto de
regras para dirigir uma atividade humana qualquer. |
|
Platão |
A concepção platônica considera a arte uma forma
de conhecimento. Não distinguia a arte das ciências nem da Filosofia (como a
arte, estas são atividade ordenadas). Distinguia 2 tipos de arte ou técnica: 1)
Judicativas – dedicadas apenas ao conhecimento; 2) Dispositivas ou
imperativas – voltadas para direção de uma atividade, com base no
conhecimento de suas regras. |
Aristóteles |
Aristóteles toma a arte como atividade da prática.
Estabelece duas distinções: a primeira distingue ciência e filosofia (necessário
– o que não pode ser diferente do que é); arte ou técnica (possível/contingente
– o que pode ser diferente do que é); a segunda é feita dentro do
campo do contingente, entre ação (práxis) e fabricação (poiesis). |
Plotino |
Distingue artes cuja finalidade é auxiliar a
Natureza (medicina, agricultura) daquelas cuja finalidade é fabricar objetos
com os materiais oferecidos pela Natureza (artesanato). |
Varrão |
A
classificação das artes seguirá padrão determinado pela estrutura social
fundada na escravidão (despreza o pelo trabalho manual). Divide as artes em
(perdurará do séc. II d. C. ao XV): Liberais - dignas do homem livre (gramática, retórica,
astronomia, lógica, aritmética, música) Mecânicas - própria do trabalhador manual/servil (medicina,
arquitetura, agricultura, pintura, escultura, olaria etc) |
Idade Média Tomaz Aquino |
Justifica classificação. Artes que dirigem o
trabalho da razão e as que dirigem o trabalho das mãos. A alma é livre e o
corpo é sua prisão. Assim, as artes liberais são superiores às mecânicas. |
Renascimento |
Humanismo dignifica o corpo humano. Tal dignidade
se traduz na batalha e a conversão das artes mecânicas à condição de
liberais. Com o desenvolvimento do capitalismo, o trabalho passa a ser
considerado causa e fonte de riquezas. Tal valorização acarretou também a das
artes. |
Final século XVII e século XVIII |
Distinguiram-se
as finalidades das artes mecânicas: -
Finalidade é serem úteis aos homens (medicina, agricultura,
culinária, artesanato); -
Aquelas cuja finalidade é o belo (pintura, escultura, arquitetura,
poesia, música, teatro, dança). Com a idéia do belo, surgem as sete artes ou
belas artes. A
distinção entre o útil e o belo leva à noção da arte como ação individual
vinda da sensibilidade do artista como gênio criador. Gênio criador (do lado do artista), beleza (do lado da obra) e juízo de gosto (do lado do público) constituem os pilares sobre os quais se erguerá uma disciplina filosófica: a estética. |
Final século XIX e século XX |
As
artes passaram a ser concebidas menos como criação genial e mais como
expressão criadora, isto é, como transfiguração do visível, do sonoro, do
movimento, da linguagem, dos gestos em obras artística. Não pretendem imitar
a realidade, nem pretendem ser ilusões sobre a realidade, mas exprimir por
meios artísticos, a realidade. |
Filósofos =
amigos da sabedoria.
Philo, deriva de philia,
significa amor fraterno, amizade.
Sophia, significa sabedoria.
Os primeiros filósofos surgira no século VI a. C.,
na Escola de Mileto.
Defendiam que tudo na natureza derivava de um
elemento básico (água, p/ Tales; ar, p/ Anaxímenes).
No final do século VI a. C. surgiu a Escola
Pitagórica.
Os pitagóricos defendiam o número, elemento abstrato,
como essência de tudo, concebendo um universo imutável fundamentado na ordem e
na harmonia.
No século V a. C. Heráclito, contrariando os
pitagóricos, provou que tudo no universo estava em constante transformação.
Surge a Escola Sofista, que negava a existência de uma verdade absoluta
e buscava conhecimentos úteis à vida, enfatizando a retórica e o uso da
palavra.
No século V a. C. a filosofia ocupou-se com o homem,
especialmente com a questão da ética. Surge a Escola Socrática. Sócrates
defendia que a reflexão e a virtude eram fundamentais à vida
“Conhece a ti mesmo”
Sócrates foi condenado a morte por suas críticas ao Estado
ateniense.,
sendo executado por ingestão de
cicuta (399 a. C.)
Jacques Louis David – A morte de Sórates (1787)
A
Escola Socrática continuou com Platão. Para Platão, cada fenômeno
terrestre era um pálido reflexo do mundo das idéias. Por isso, ficou conhecido
como o filósofo do ideal.
Outro
filósofo da Escola Socrática foi Aristóteles. Ao contrário de Platão,
concentrava seus estudos nas mutações do mundo material. Para ele o real
existia independentemente das idéias, e para conhecê-lo era necessário
desenvolver a lógica.
ARTE E FILOSOFIA
Dois grandes momentos de
teorização da arte. No primeiro (inaugurado por Platão e Aristóteles) a
Filosofia trata as artes sob a forma da poética (estuda as obras de
arte como fabricação de seres e gestos produzidos pelos seres humanos); no
segundo (a partir do séc. XIII) sob a forma da estética (tradução do
grego aesthesis; significa conhecimento sensorial, experiência,
sensibilidade). No séc. XX as artes
deixaram de ser vistas exclusivamente como produtoras da beleza
(contemplação). Tal mudança fez com que a idéia de gosto e de beleza
perdessem o privilégio dos estudos da estética. Com isso a filosofia da arte
(estética) aproxima-se cada vez mais da idéia de poética, a arte como
trabalho e não como contemplação e sensibilidade. Núcleos principais de
investigação: Relação entre arte e natureza, relação entre arte e humano,
finalidades da arte |
|
Investigaremos a Relação
entre Arte e Natureza |
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Aristóteles - Estética da mimese |
Imitação:
“a arte imita a natureza”. A obra resulta da atividade do artista para imitar
outros seres por meio de sons, sentimentos, cores, formas etc. O valor da
obra está na habilidade do artista. Imitar não significa reproduzir, mas
representar a natureza através da obediência a regras para que a obra figure
algum ser, algum sentimento, algum fato. A finalidade é a busca da harmonia e
proporção. |
Romantismo - Estética da criação |
Após
23 séculos de definição da arte como imitação, a Filosofia passa definir a
obra de arte como criação. Ao contrário da concepção anterior onde o valor
estava na qualidade do objeto imitado, agora o valor é localizado na figura
do artista como gênio criador. A idéia da inspiração explica a atividade
artística. A obra é a exteriorização dos sentimentos interiores do gênio
excepcional. A arte não reproduz a natureza, mas liberta-se dela, criando uma
realidade humana e espiritual. Pela atividade livre do artista, os homens se
igualam à ação criadora de Deus. Nesse momento (estética da criação) a
filosofia separa homem e natureza. |
Século XX Estética contemporânea |
A
obra de arte não é pura receptividade imitativa ou reprodutiva, nem pura
criatividade espontânea e livre, mas expressão de um sentido novo e um
processo de construção do objeto artístico em que o artista, às voltas
com a natureza, constrói um sentido novo (a obra) e o institui como parte da
cultura. Tal concepção coloca o artista num embate contínuo com a natureza e
com a sociedade, deixando de vê-lo como gênio criador solitário e
excepcional. |
“A estética é algo muito diferente
das teorias da arte, às quais
correspondia
uma práxis (ação) e, portanto, pretendiam estabelecer
normas e
diretrizes para a produção artística. A estética é uma
filosofia
da arte, o estudo, sob um ponto de vista teórico, de uma
atividade
da mente: a estética, de fato, se situa entre na lógica, ou
filosofia
do conhecimento, e a moral, ou filosofia da ação. É também,
notoriamente,
a ciência do “belo”, mas o belo é o resultado de uma
escolha, e
a escolha é um ato crítico ou racional, cujo ponto de
chegada é
o conceito. Não se pode, contudo, dar uma definição
absoluta
do belo; como é a arte que o realiza, só se pode defini-lo
enquanto
realizado pela arte. É verdade, porém que se faz uma
distinção
entre o belo da arte e o belo da natureza, mas as duas
formas do
belo estão em estreita relação: como a arte, por definição,
é imitação, não existiria o belo
artístico se não se imitasse a
natureza;
no
entanto, se a arte não ensinasse a escolher o belo entre as
infinitas
formas naturais, não teríamos noção do belo na natureza.”
Giulio
Carlo Argan
A
coisa não é bela em si, mas no juízo a define como tal.
O
belo não é objetivo, mas subjetivo:
o “belo romântico’ é justamente o
belo subjetivo, característico, mutável
contraposto
ao “belo clássico”, objetivo, universal, imutável.
A
cultura artística moderna mostra-se centrada na relação dialética, quando não
de antítese:
Clássico:
ligado à arte do mundo antigo, greco-romano e ao renascimento na cultura
humanista dos séculos XV e XVI.
Romântico:
ligado à arte cristã da Idade Média
Wörringer
Distinção
por áreas geográficas:
Clássico:
o mundo mediterrâneo, onde as relações dos homens com a natureza é clara e
positiva
Romântico:
o mundo nórdico, onde a natureza é uma força misteriosa, freqüentemente hostil.
Clássico
e Romântico foram teorizados entre a metade do século XVIII até meados do XIX.
Meados
do XVIII: os preceitos ou tratados do Renascimento e do Barroco são
substituídos pela estética.
A
ruptura na tradição se define com a cultura do Iluminismo.
A
natureza não é mais a ordem revelada e imutável da criação, mas o ambiente da
existência humana.
ARTE E SOCIEDADE
A
discussão sobre a relação arte-sociedade levou a duas atitudes filosóficas
opostas: uma define que a arte só é arte se for pura, se não se preocupar com
as circunstâncias históricas e sociais (arte pela arte); a outra afirma que o
valor da obra decorre de seu compromisso crítico diante das circunstâncias
presentes (arte engajada). A
primeira concepção (arte pela arte) desemboca no chamado formalismo, em que a
perfeição da obra é que a legitima, e não o seu conteúdo. A
segunda concepção desemboca no conteudismo, onde é a mensagem que
conta. |
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna.São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
JANSO , H.W. Iniciação a História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Músicas utilizadas em sala de aula:
Música 1 –
Gregoriano: AleluiaIn Die (Monastic choir of the Abbey of St. Peter)
Música 2 – Idade Média: Der kuninc Rodolp (Conjunto de Câmara de Porto Alegre)
O Rei Rodolfo ama
Deus e é inabalável em sua lealdade;
O Rei Rodolfo bem se
absteve de atos desonrosos;
O Rei Rodolfo julga
bem e odeia falsas palavras;
O Rei Rodolfo é
heróico, intrépido e virtuoso;
O Rei Rodolfo honra
Deus e todas as dignas mulheres
O Rei Rodolfo
deixa-s mostrar coberto de altas honrarias.
Desejo que, por sua
bondade, seja ele bem-aventurado.
O contar, o tocar e
o trovar dos mestres o deleita e não o aborrece.
Música 3 – Idade Média: In taberna quando sumus (Carmina Burana, anônimo)
Quando estamos
sentados na taberna,
Não cuidamos da
direção da humanidade;entregamo-nos ao jogo
E suamos de tanta
atividade.
O que acontece na
taberna,
Onde o dinheiro
serve o vinho,
E, de fato, uma
pergunta séria.
Escutais bem o que
vos digo!
Alguns jogam, alguns
bebem,
Outros comportam-se
ousadamente;
Onde um jogo é
praticado,
Muitos são
desnudados,
Mais que um se
equipa novamente,
Muitos se vão apenas
ensacados
Na taberna ninguém
teme
A barreira da morte.
Primeiro brinde:
àquele que paga a conta
E aos libertinos que
lucram;
Segundo brinde: aos
prisioneiros;
Terceiro: aos que
vivem por aí;
Quarto: aos cristãos
Quinto: aos
defuntos;
Sexto: às irmãs
levianas;
Sétimo: à multidão
guerreira.
(...)
Ao papa e aos reis!
Todos bebem,
Sem medida, sem
regra.
Bebe a mulher, bebe
o homem
Bebe o militar, bebe
o clérico,
Bebe ele, bebe ela,
Bebe o criado com a
criada,
Bebe o veloz bebe o
preguiçoso,
Bebe o bom, bebe o
mau,
Bebe o constante,
bebe o errante,
Bebe o bruto, bebe o
sábio.
Bebe o pobre e o
doente,
Bebe o exilado e o
desconhecido,
Bebe o jovem, bebe a
velhice,
Bebe o bispo e o
decano,
Bebe a irmã, bebe o
irmão,
Bebe a anciã, bebe a
mãe,
Bebe esta, bebe este,
Bebem cem, bebem
mil!
Quase não bastam
seis pagantes
Onde todos bebem,
Sem medida e com
prazer,
Até a inconsciência.
Por isso toda gente
se torna mesquinha,
Por isso somos
indigentes
Os que nos injuriam
dever ser amaldiçoados
E do livro dos
justos erradicados.
Música 4 – Renascimento: No os tardéis, traed, traed aqua
ya! (Mateo Flecha El
Viejo)
Música 5 – Renascimeto: Le chant des Oyseaux (Clément Janequin)
Música 6 – Barroco: Concerts de Brandeburgo 3 (Johann Sebastian Bach)
Música 7 – Clássico:Concerto para flauta e orquestra em Ré maior (Mozart)
Música 8 – Romântico: Sonata 8 em Dó menor/Pathetique op. 13 (Beethoven)
Música 9 – Séc. XIX: Missa da requien II Dies irae (Verdi)
Música 10 – Impressionistas: Prélude à laprès-midi d´un faune (Debussy)
Música 11 – Impressionistas: Bolero (Ravel)
Música 12 – Moderno: Músic for strings, percussion and celesta (Bartók)
Música 13 – Moderno: Capríccio para piano e orquestra (Stravinsky)
Música 14 – Moderno: Movimentos para piano e orquestra (Stravinsky)
Música 15 – Moderno: Pierrô Lunar (Schoenberg)